Por Laura Mamed
Engenheira Civil e Analista de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado do Acre.
Difícil se manter calada diante do abismo de escândalos que o meu tão querido, pobre - quando convém - generoso e inocente Estado tem passado. Ele está doente. Está em coma. A doença era grave e por várias vezes foi ignorada, subestimada e desafiada. Recentemente, os médicos resolveram ser realistas, reunir os filhos e esclarecer o real estágio da doença. Os mais velhos já desconfiavam da gravidade.Os mais novos e sonhadores ainda acreditam no milagre da cura. Os irmãos do meio ainda insistem em contrariar todos os diagnósticos e insistem em procurar centros de excelências e médicos de referências em Brasília e São Paulo. Os primos mais próximos, mais visionários e espertos, se uniram e se mobilizaram previamente para construir um hospital dentro de casa com estrutura de dar inveja a qualquer hospital público. Abro aqui um parêntese para dar um "Salve" a construção civil que nos permite sonhar, ousar e brincar de construir com direito a sigilos e segredos guardados no mais rígido dos concretos. Voltando, uma verdadeira equipe foi contratada para que ele - o Estado - não sentisse tanto os efeitos da doença. Morfina era aplicada diariamente. O dinheiro que sempre foi o problema, agora não era mais. A ordem era: gastem o que for preciso para continuar abafando a doença. De maneira alguma, o restante da família pode saber o que está acontecendo, porém, como qualquer epidemia em estágio avançado, inevitável não perder o controle e continuar manter o sigilo. A situação se alastrou de tal forma que o cenário, antes local, se tornou nacional. Tudo que um dia foi varrido pra baixo do tapete, veio à tona, colorido com todas as cores do arco-íris, brilhos e destaques sempre tão temidos.
A situação está instalada. Alguns olham de fora. Outros vivenciam e sofrem. Muitos se apresentam apreensivos pelo que ainda está por vir ou acontecer. Milhares estão mais preocupados com sua subsistência que durante anos esteve garantida e agora se apresenta ameaçada por um "simples livreto que insiste em ditar regras num Estado que por várias vezes já divulgou ter idioma, moeda e leis próprias".
Enfim, a bola de neve cansou de rolar e se desfez no ar. O silêncio resolveu abrir a boca. A paz disfarçada resolveu se desmascarar e pedir auxílio da polícia. O concreto antes rígido resolveu se dissolver sozinho. A população apaixonada resolveu se revoltar ou ao menos se calar. E o pai da "Grande Casa" resolveu colocar de castigo todos que um dia resolveram brincar com o que de mais alto e simbólico existe num país. Pobre Constituição Federal.
Enquanto isso, a parte do país que nem sequer sabia se o Acre existia, agora, mais do que nunca, ou o despreza pela bagunça do "salve-se quem puder" ou faz planos para vir e ganhar dinheiro de forma rápida e fácil.
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